A ariranha, considerada a maior lontra do mundo, vive nos rios do Pantanal mato-grossense e chama atenção pelo comportamento social. São curiosas, comunicativas e muito protetoras, formando famílias unidas que ajudam a manter o equilíbrio do ecossistema.
Predadoras de topo de cadeia, as ariranhas se alimentam principalmente de peixes, mas também de aves, moluscos e pequenos répteis. Apesar da adaptação ao ambiente pantaneiro, um estudo internacional aponta que mudanças recentes e queimadas têm alterado o habitat da espécie na região.
Bravinhas e super protetoras
Elas pertencem ao grupo dos mustelídeos, são espécies endêmicas da América do Sul, ocorrendo em áreas preservadas do Pantanal, Amazônia e uma pequena porção do Cerrado.
Podem viver em grupos de 2 a 20 indivíduos e podem atingir até 1,8 metro de comprimento e 33 quilos. Também são predadoras de topo de cadeia, se alimentam de peixes, mas também de moluscos, aves e pequenos répteis.
Além de sociáveis, marcam território por meio do cheiro e da vocalização, com mais de 15 tipos de sons diferentes, usados para alertar, chamar ou interagir com o grupo. Cavando tocas e formando “acampamentos” nas margens dos rios, constroem verdadeiros lares coletivos onde descansam, interagem e cuidam dos filhotes.
Estudo revela novos desafios
Atualmente, a ariranha é considerada uma espécie ameaçada, segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uma das principais referências mundiais sobre o estado de conservação da fauna e da flora.
Entre os fatores que afetam as populações estão mudanças no ambiente natural, alterações no uso do território e impactos climáticos, como períodos prolongados de seca.
Um estudo publicado em março de 2025 pela revista científica Oryx, da Cambridge University Press, analisou os desafios da conservação da ariranha na região de Porto Jofre, no coração do Pantanal Norte, conhecida pelo turismo de observação de fauna.
O artigo indica que o manejo responsável das atividades turísticas é essencial para garantir a convivência entre visitantes e a vida selvagem, especialmente durante o período reprodutivo da espécie.
Turismo e clima em conflito
As queimadas dos últimos anos também têm transformado o ambiente onde as ariranhas vivem. Em 2020, incêndios florestais se espalharam por grande parte das áreas monitoradas durante o período reprodutivo, atingindo margens de rios, destruindo tocas e alterando o cenário natural do Pantanal.
De acordo com o estudo, o fogo modifica a estrutura das margens, reduz a disponibilidade de peixes e compromete o comportamento dos grupos, que passam a se deslocar em busca de abrigo e alimento.
A pesquisa mostra que o controle das queimadas é essencial para preservar os rios e a vida que depende deles no Pantanal.
Ações de conservação
Desde 2019, o Projeto Ariranhas, criado pela bióloga Caroline Leuchtenberger, realiza diariamente o monitoramentos da espécie no Pantanal, Cerrado e Amazônia. A equipe estuda como as ariranhas estão lidando com as mudanças no ambiente e busca maneiras de equilibrar a conservação da fauna com o turismo de natureza.
Entre as medidas adotadas estão a criação de áreas de refúgio durante o período reprodutivo, limites para o número de barcos em regiões sensíveis e o treinamento de guias e operadores turísticos para reduzir o estresse sobre os animais.
-
Vídeo mostra ariranhas ensinando filhotes a nadar no Pantanal
-
Ariranha é flagrada com garrafa plástica na boca no Pantanal
-
Onça-pintada é flagrada com sucuri entre os dentes