Ex-deputado federal lembra que era conhecido como “patinho vermelho” na antiga legenda
O advogado e ex-deputado federal Fábio Trad (PT) detalhou, durante entrevista ao podcast Política de Primeira, os motivos da filiação ao Partido dos Trabalhadores. O político vê a mudança como desdobramento natural de uma jornada que procura sempre preservar a coerência. (assista ao vídeo abaixo)
“Tem uma coisa no PT que são as correntes internas. Muita gente pensa que o PT é uma coisa, na verdade não é. PT não é um partido sectário, de exclusão. PT é uma delícia de atuar. Só que o seguinte: você é dono do papel que exerce. Então você sustenta as suas ideias, você é ouvido. Acho isso muito importante para a democracia. Se tem algumas posições radicais no PT, olha pra extrema direita pra você ver se não tem radicalismo lá. Ah, mas o PT esteve envolvido em alguns escândalos de corrupção, houve as punições e eu quero aqui fazer um desafio: qual partido no Brasil que não tem liderança ou membro ativo que não foi envolvido em corrupção? Porque se for esse o critério, você não vai se filiar a partido algum.”
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“Eu sempre estive no campo progressista. No meu partido, PMDB, eu dei sustentação ao primeiro governo Dilma, porque o PMDB integrava a cúpula do governo através do vice-presidente [Michel Temer]. No segundo mandato Dilma eu não pude, porque eu não era deputado federal, foi o Marun. Quando eu ingressei no PSD, logo nos primeiros meses do governo Bolsonaro, quando eu presenciei manifestações na Esplanada com faixa de AI-5 e intervenção militar, pelo amor de Deus, gente. Não tem condições, completamente agressivo, violência contra o que eu penso. Então eu abri uma dissidência interna no PSD e lá eu era considerado patinho vermelho. Continuei no PSD, até porque uma desfiliação ali poderia me defenestrar do quadro político, custar o mandato.”
“O PSD, embora tivesse respaldado o governo Bolsonaro, eu sempre me opus. Eu votei contra a privatização da Eletrobras, votei contra a reforma administrativa, votei contra a privatização dos Correios, é só levantar lá, eu estou muito na dissidência do PSD. Então minha filiação ao PT eu não considero guinada, eu considero um desdobramento natural de uma constatação. Não existe mais espaço para o centro na política brasileira. Morreu, acabou. Infelizmente deveria acabar o Centrão também, mas esse está mais vivo do que nunca. O centro acabou, o Centrão está vivo. Hoje nós temos dois campos. Um campo comprometido com valores que eu defendo: Estado democrático de direito, que é fundamental, soberania estatal e priorização do compromisso com a justiça social. Eu estou aqui. O outro campo é mais fora do espectro, porque não é de direita, é um campo que está com quem invadiu Brasília no dia 8 [de janeiro], é um campo que está com quem passa pano pra aquele cidadão que colocou bomba num carro que ia explodir no dia 24 de dezembro perto do aeroporto de Brasília. Então esse campo da extrema direita que prega ruptura constitui uma matriz partidária e este campo democrático constitui outra. Então pra onde eu vou? Eu não vou ficar ao lado de pessoas que rezam pra pneus, por favor, nem pra quem coloca celular piscando pra despertar mundo cósmico planetário. Não dá pra mim. Então se você não gosta de mim por conta disso, paciência, vamos procurar viver respeitosamente, mas eu não vou ficar com quem quer anistia. Sabe por quê? Porque se anistiar hoje vai incentivar futuros golpes de Estado e o Brasil vai se transformar em um país absolutamente insuportável de se viver. Nós temos que ter leis e decisões justas e estáveis, inclusive para o mundo econômico.”
Fábio Trad não acha que mudou de lado ao longo da trajetória política.
“Quem mudou foram aqueles que estavam comigo em 2007 na OAB, defendendo Estado democrático de direito e agora são extremistas. Nelsinho coordenou campanha do Lula e da Dilma aqui. Tereza Cristina era do Partido Socialista Brasileiro, que no artigo 2º do estatuto prega a implantação do socialismo, então ela também bebeu das águas do campo democrático. Luiz Ovando era do Partido Popular Socialista, o PPS era filho do PCBão. Então quem mudou não fui eu. Agora eu também não vou condená-los, colocar o dedo na cara pra falar que estão errados, quem deve julgar é o povo. Eles devem achar que estou errado por ser coerente, faz parte.”
Reação da família
Irmão do senador Nelsinho Trad (PSD) e do ex-prefeito de Campo Grande e vereador Marquinhos Trad (PDT), Fábio Trad falou sobre a reação dos familiares em relação à filiação ao PT.
“A ala mais ligada à direita não ficou contente. Mas o meu irmão Marcos [Marquinhos Trad], além de ter aplaudido e apoiado, já me autorizou a falar que o PDT vai fazer parte da frente ampla pela defesa da reeleição do presidente Lula, porque o Marcos também vê que se for a extrema direita a vencer as eleições, babau democracia.”
“[Nelsinho] disse que eu nunca fui votado por esse campo, que eu sempre fui votado pelo campo onde hoje ele está. Eu discordo porque eu nunca fui votado pela extrema direita. Extrema direita sempre preferiu outros candidatos a deputado federal, sempre manteve um certo distanciamento. Por quê? A extrema direita, ao contrário da direita que eu respeito, prega ruptura. Esses que pregam a ruptura nunca votaram em mim. Eles têm outros candidatos, aliás alguns eleitos.”
Encanto pelo PT
“Uma coisa que me encanta no PT: o militante mais modesto trata o líder como companheiro. Você tem que impor lá pela sua ideia. Se apresenta um projeto para debater e tem que sustentar. Aí quem está dirigindo o debate fala: alguém quer contestar? Contesta, vem. Contestou, vamos pra votação. O voto do Zeca, do Vander, do Kemp, da Camila, da Gleice Jane é igual ao voto do cidadão mais modesto que é militante. Isso me encantou, parece a Grécia antiga, que você discutia tudo lá na Ágora”, destacou Fábio Trad.


