A família de um bebê que morreu durante um parto normal, na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande, acusa a equipe médica de negligência e violência obstétrica.O caso aconteceu na manhã desta quinta-feira (16), após a mãe da criança, de 32 anos, ficar cerca de 20h em trabalho de parto.
À reportagem, o pai do bebê, Eduardo de Souza, de 29 anos, relatou que a esposa foi internada por volta das 11h de quarta-feira (15). Já a avó, afirmou que o parto foi conduzido com uso de força excessiva.
“O médico pediu para que o José Eduardo, meu filho, auxiliasse na força. Então o médico passou o braço em cima da barriga dela. E aí ele falou para o Eduardo passar o braço dele também. Então foram dois homens forçando. Quando fez essa força, o Eduardo falou que já expeliu o bebê”, disse.
Assim que o bebê saiu, foi colocado no colo da mãe, mas não apresentava sinais vitais. Os médicos presentes tentaram reanimá-lo com uso de aparelho, mas após 40 minutos, a morte foi declarada.
A mulher, que já é mãe de outros dois filhos, realizou todo o pré-natal e não recebeu, segundo a família, nenhuma recomendação para cesariana, mesmo com exames que indicavam o peso estimado do bebê em 3,4 quilos.
Eduardo disse, ainda, que o médico o informou que, mesmo se o filho sobrevivesse, teria sequelas neurológicas graves. Ainda de acordo com ele, não foi realizado nenhum exame antes do parto que indicasse o tamanho ou peso do bebê.
“Depois ele [o médico] chegou na minha esposa e disse ‘você sonha em ter outro filho?’. Ela falou que no momento não tem como pensar nisso, porque está abalada psicologicamente, assim como eu. Aí ele olhou pra mim e falou ‘então vocês tentam fazer outro filho. Fazendo outro, vocês trazem aqui que eu vou fazer na cesárea’”, contou.
A família alega, também, que não recebeu apoio da maternidade após a morte do bebê. O corpo da criança foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal), após os trâmites legais na Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
“Eu quero mais esclarecimentos. E eu quero que seja feita justiça tanto pela minha nora, quanto pelo meu neto, quanto pelo meu filho”, disse a avó do menino.
A Polícia Civil informou que o caso será investigado a partir do Boletim de Ocorrência registrado pela família, na tarde desta quinta-feira (16).
O que diz a maternidade
Em nota, a unidade de saúde informou que a paciente foi internada com gravidez de 40 semanas e 4 dias, em razão de bolsa rota, procedimento realizado com consentimento da mãe.
“A gestante possuía histórico de dois partos normais anteriores e, durante todo o processo, recebeu acompanhamento contínuo da equipe médica e de enfermagem. No momento do parto, houve a ocorrência de distócia de ombro, uma complicação obstétrica grave e imprevisível, que pode ocorrer mesmo em condições de parto consideradas normais.
Infelizmente, apesar de todos os esforços da equipe, o caso teve desfecho trágico, com o óbito do recém-nascido.
Ressaltamos que, a princípio, não foi identificada qualquer falha ou indício de negligência na condução do atendimento. Ainda assim, por compromisso com a transparência e a qualidade da assistência, o caso será apurado pelas Comissões de Ética e de Óbito da instituição, conforme protocolo interno.
A Maternidade manifesta profundo pesar pela perda e solidariedade à família, reiterando seu compromisso com a ética, a humanização e a segurança no atendimento a todas as pacientes”, finalizou a nota.